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sábado, abril 25

Mulher-consumista, uma construção histórica.




É muito comum em nosso cotidiano nos depararmos com variados “jargões” que caracterizam comportamentos, definindo causas e efeitos a priori.
Um exemplo claro disso é aquele que dá a mulher uma característica “inata”, a de ser consumista. Muitas vezes ouvimos maridos, filhos e até elas próprias em nossa contemporaneidade assumirem esse papel que se condicionou ser inerente a condição feminina.
Essa construção iniciou-se no reinado da rainha Vitória (Inglaterra) entre os anos de 1837 e 1901, que para a manutenção da burguesia, explorou e introduziu códigos de conduta, na qual o recôndito do “privado” destinado a mulher, sedimentaram a base da sociedade vitoriana. Durante o referido reinado a família se desenvolveu de forma conservadora, consolidando normas de intimidade onde se castrava a mulher e dava ao homem poderes para a manutenção da ordem “pública”.
Variados códigos de etiqueta e de comportamento mantiveram a mulher dentro de seu lar. Segundo Andréa Lisly Gonçalves (2006) em seu livro “História e Gênero”, a figura da dona-de-casa era tão idealizada quanto a do marido mantenedor do lar, principalmente em 1850, onde a família, o lar, a maternidade cultivaram a imagem da chamada “era de ouro da domesticidade”.
É evidente que esse desenrolar caminhava em desacordo com os movimentos feministas do século XIX, que por sua vez não deixou de investir as mulheres de novos poderes. Citamos como evidência as mulheres operárias que traziam esses poderes ligados as suas tarefas domésticas, isto é, cuidando do orçamento doméstico.
Como afirma Michelle Perrot, “nos dias de recebimento do salário, as ruas dos bairros populares se transformavam em campos de batalha”, isso porque a mulher cuidava para que o montante do pagamento fosse corretamente distribuído para a manutenção da casa, dos filhos e então por fim, a parte que seria consumida em bebidas, no bar mais próximo ao trabalho.
Toda essa organização no mundo feminino seria mais tarde denominada como “matriarcado orçamentário”, em que partir do século XX será bastante comum essa prática aqui no Brasil, tendo a mulher como gerenciadora do capital familiar.
Esse “controle” das despesas familiares levará a conclusão de que a mulher apresenta tendências natas para o consumismo, o que demonstra claramente a naturalização de mais um conceito feminino construído socialmente e hoje devidamente conduzido pela mídia e grandes empresários.


Verônica Fragoso


Goncalves, Andrea Lisly.História & Gênero .São Paulo.Autêntica,2006. ISBN: 8575261924

PERROT, Michelle. Os Excluídos da História: operários, mulheres e prisioneiros. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1992.

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