Dezirée & Lucca Forever

sexta-feira, maio 16

Mulher por ela mesma


É evidente que em meio a toda crise que afetou diretamente o universo feminino, a relação homem-mulher sofreu abalos que interferiram conseqüentemente no casamento.
O laço matrimonial durante grande período da Idade Moderna havia sido o objetivo existencial da mulher, toda a sua educação era voltada para desenvolver bem as “prendas” domésticas, cuidar dos filhos, da casa e do marido.
Segundo Mary Del Priori em seu livro História de Amor no Brasil “o amor como base do casamento talvez seja a mais importante mudança nas mentalidades ocorrida no limiar da Idade Moderna ou, possivelmente, nos últimos mil anos da “história ocidental” ”. (2007: 14)
Durante o surgimento da burguesia sua função no casamento passou por isso, a ter uma nova essência, sendo a submissão um fator importante endossado pela medicina social como fator característico exclusivamente feminino.
Elas seguiram bravamente, desmistificando comportamentos e pensamentos, arraigados de preconceitos e supressão.
È evidente que durante sua entrada no mercado de trabalho ela passou por inúmeros questionamentos pessoais.
O primeiro foi à maternidade que, durante séculos, foi seu indulto, a razão de sua existência. Ao ingressar no mercado de trabalho, já fazendo parte de uma família ou engravidando logo em seguida, freqüentemente muitas mulheres deixavam de trabalhar para cuidar de seu filho, além disso, era uma questão de honra para o marido manter essa comunhão.
O casamento, mesmo após sua entrada no mundo do trabalho, ainda persistiu por um bom tempo defendendo papéis de gênero que determinavam o quê e como marido e mulher deveriam se comportar.A mulher deveria desenvolver bem suas obrigações de esposa, mãe e mulher e ao marido, permanecia sua obrigação de manter a família.Era importante que o casal conversasse e trocasse idéias, mas pertencia ao homem à direção da família.
O “precisar” de dinheiro não era algo bem visto em relação ao universo feminino. As mulheres pobres que tinham a necessidade de manter seu sustento procuravam desenvolver, dentro dos afazeres domésticos, uma espécie de “continuação” dos mesmos, vendendo doces por encomenda, fazendo bordados e outras prendas. Entretanto, esse tipo de trabalho era menosprezado pela sociedade e marginalizado pelo homem em relação ao próprio homem, que segundo os ideais de masculinidade, como já relatamos, deveriam manter sua família dignamente.
As mulheres de famílias mais ricas, apesar de toda possibilidade que tinham de acesso a uma boa educação, freqüentemente eram restritas à esfera do espaço privado, onde, em geral, casavam e permaneciam enclausuradas.
Houve muitas que conseguiram transgredir essas amarras, apesar de terem estudos pagos pelos pais através de mestres rudes que utilizavam e abusavam de palmatórias e castigos, elas buscaram seu florescimento por meio de muita determinação e dor.
Uma das características mais encantadoras dessas mulheres, do meu ponto de vista, foi à graça que tiveram em utilizar aquilo que, por muito tempo foi castrado; seus sentimentos, como uma arma sutil, porém belicosa em seu caminho de redescoberta.A prova contundente desse fato é que, contrariando expectativas sociais, muitas se tornaram poetisas e escritoras.
Renasceram através de suas emoções que, em primeiro momento, expunham sua alma com palavras doces e sinceras, retratando heroínas de imagens angelicais e que, por serem dóceis, ainda pressupunham algum tipo de dominação.
Aos poucos suas palavras foram ganhando força e expressão. Surgindo então, dessa transição, novas mulheres que nasciam para uma recém-descoberta vida, iluminadas de insurgentes necessidades e emoções.

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