Mais ou menos como algo que você passa, mas não entende. Como um sonho estranho que parece que vai, mas na verdade nunca foi. Fica-se quieto pra que ela não se mexa também, e tudo que se consegue é que ela não aperte mais contra seu cérebro. De onde ela vem, não sei, nem pra onde ela vai. Não sei porque ela veio, nem como ela me deixará... nem quando. Realidade é não saber, nem poder mexer nela, porque já é, e nada pode se fazer a respeito. Realidade é algo morto porque já tem destino pronto: ser passado no momento seguinte... agora, agora, agora... e agora... e nunca pára. Como a dor. A dor de estar vivo, a dor da tensão de se viver e ser algo que muda. Viver dói, como a realidade, como a cabeça, e nada pode ser feito. Ao olhar, perco o contato com ela, e me ligo a uma ilusão, longe de mim, que nada me diz. Ou que diz tudo, e nada é real. Fica-se zonzo, em meio a tanto falatório. Por isso dói... fala-se muito, ouve-se pouco. Ilude-se demais, realiza-se nada. Morre-se sempre, vive-se sem querer.
Dor, quase a única coisa que faz sentir vivo, pois tira-nos da realidade. Aquela... a morta!
Eduardo Semerjian
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